Affonso Romano de Sant'Anna foi meu Mestre em Literatura Brasileira, na UFRJ. Tenho foto do dia em que, na sala de aula, ele autografou-me " O Canibalismo Amoroso". Preciosas lembranças. Eu sou antiga, de um tempo em que ainda se dava mais valor a sentimentos, pessoas e não à imagens, Big Brothers, futilidades. Eu sou do tempo em que a gente esperava o carteiro e as cartas eram longas, personalíssimas. Algumas eram perfumadas. Me digam, como enviar um email ou um post perfumado? Sou a favor da tecnologia, mas infelizmente ela nos rouba a sensação real. Uma rosa que você toca, sentindo a textura da pétala junto com a da mão que a colheu, não é a mesma rosa que você vê na telinha do computador. O viço de uma flor seca entre as páginas de um diário é maior do que o de um buquê virtual, porque quando a velocidade da luz traz a imagem do lindo buquê, ele já está morto a milhões de ano. A flor que seca entre os cadernos deixa ali o seu aroma e, mesmo morta, é viva porque real. Affonso me emocionou às lágrimas com o seu texto e porque ele me lembrou que ainda há gente antiga o suficiente para gostar dos sentidos e de sentir-se vivo. Em tempos de filosofia fast food e mensagens superficiais, viva o meu mestre e sua poesia sobre mulheres cuja perfeição alcança um estágio incompreensível para quem só pensa em ser uma daquelas garotas do faustão ou do gugu, com letra minúscula mesmo, porque isso é ser minúsculo. A beleza fundamental de Vinícius, pouca gente entendeu. Hoje, madura, eu posso afirmar que ela é fundamental, pois é a beleza dos sentidos.
Affonso, caro Mestre, este texto partiu da menina que você ensinou e hoje floresceu.
Yndiara Macedo
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