De volta. E absurdamente triste em ver que as coisas pouco evoluíram desde que comecei este blog , há 8 anos. Eu já reclamava da Rouanet, do discurso sistemático, doutrinante e massificador da esquerda, das questões culturais, do sensacionalismo, manipulação da mídia, burrice nas redes sociais. Por outro lado, estou absurdamente feliz em ver que continuo consistente. Coerente.
Talvez tenha deixado mais de lado ainda o feminismo. Eu, na verdade, nunca fui feminista, mas engolia alguns discursos, na época da faculdade, ainda jovenzinha e ávida para pertencer à luta...
Que luta? Para urinar e defecar no chão? Para fazer sexo com outra mulher dentro de uma Igreja? Para odiar cegamente qualquer ser do sexo masculino? Isso tudo é patologia, a ser resolvida em consultórios psiquiátricos e/ou divãs de psicanalistas. Lutar por direitos é algo muito diferente. Nenhuma das atitudes patológicas adotadas pelo que eu chamo de movimento feminazi tem qualquer eficácia nas questões concernentes aos direitos das mulheres. O discurso psolista de marieles de franco (grafei em minúsculas, mesmo) também não ajudou muito as infelizes que continuam sem creches, sem segurança, sem saúde da mulher. Aliás, a tal vereadora se preocupava com isso ou só em defender aborto? Enfim, não sei porque eu e milhares de pessoas só descobrimos que Mariele (que hoje tem até dia comemorativo.) existia quando ela deixou de existir, provavelmente executada por milícias no Rio de Janeiro. Retomando, pouco se avançou. Pelo menos em 2019 o presidente é um conservador, um tanto radical, até, mas pelo menos saímos da hegemonia esquerdista que desembocaria no cruel destino venezuelano, onde o povo come lixo e é alvejado pelo psicopata governante, que a esquerda brasileira chama de "democrático".
Mudei de cidade, de casa, de lotação no meu serviço. Mas, não, meu salário não foi aumentado, o salário mínimo continua uma desgraça e a carestia é um fato. A economia ainda está ruim. Não vou culpar Jair Bolsonaro que está indo para o terceiro mês de governo, mas vamos lá, presidente, toca esse bonde logo que o Brasil tem pressa.
As redes sociais estão mais poluídas, os ativistas gays ( da esquerda) enlouqueceram junto com as feministas, apoiados pela loucura do PSOL que provoca o vendido STF para legislas ( e os ministros gostam disso.), as religiões continuam em guerras inúteis, transformaram Jesus e Satanás em destaques de escola de samba sem pagar royalties, cidadão educado, trabalhador, de bons sentimentos e contrário ao comunismo é chamado de fascista... é o ar ficou bem poluído. É que a tentativa de expurgo dessa chaga pútrida chamada "socialismo" realmente é complicada, As elites dos partidões comunistas não querem perder a mamata, a dinheirama corrupta. os artistas comunistas estão revoltados porque não vão mais mamar nas tetas da Lei Rouanet, assunto que eu já denunciava aqui, em 2012. A Daniela Mercury virou uma lésbica louca. A música ridícula que ela fez sobre o corte de verbas pro carnaval ( o Brasil precisa de dinheiro, não de mais folia) é verdade. Ela está louca pulando no meio da rua e acho que o Bolsonaro não vai conversar com ela não.
A todas essa, eu ando levantando brindes de Desvenlafaxina. O mundo está torto. Quem realmente tem Arte no sangue, só tomando umas pra aguentar. Desentorta à Direita, por favor.
Mimeses e Alquimias
quinta-feira, 7 de março de 2019
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Elegia à "Pintada"
Escrevi este texto em homenagem à Pintada, a gatinha morta em Itatiba, por um completo imbecil, covarde e assassino, e a tantas outras criaturinhas que são seviciadas, torturadas, abandonadas e/ou mortas, sem nenhuma razão, pois não há nenhuma, *nenhuma*, razão nisso. Publiquei no meu blog e enviei ao Jornal de Itatiba, para a coluna recebemos. Estou com o coração realmente partido e indignada com a crueldade e impunidade que campeia solta. Essa semana uma dentista foi queimada viva porque não tinha dinheiro para dar para dois vagabundos safados. Tenho VERGONHA das leis (???) deste país, que acobertam a criminalidade.
“Eu entrei naquele lugar sem maldade. Não ia roubar nem estragar nada. O que me atraiu foi o cheirinho da comida.
Eu estava bem acostumada com as redondezas. As pessoas gostavam de mim. Eu era bem cuidada e feliz. O que mais gostava de fazer era correr e pular entre os muros e no parquinho, onde ficam as crianças. Elas me chamavam e eu sempre ia. Gostava de sentir as mãozinhas alisando meu pelo macio. Dengosa, eu sempre ronronava diante de carinho.
Entrei naquele lugar, naquele dia, inocente. Bichinhos não fazem as coisa intencionalmente, por maldade, por querer, como os ditos seres “humanos”. A gente não faz cocô nem xixi na sua porta, na calçada, no seu estabelecimento, no seu quintal, porque não vai com a sua cara. A gente não mente e pede um real pra comida e vai comprar cachaça. Quando a gente mia ou gane, os olhinhos embaciados, é porque está com fome de verdade. A gente não mente que precisa de dinheiro pra passagem ou pro remédio pra comprar droga. A gente nem sabe o que é o dinheiro de que os humanos gostam tanto.
Eu entrei naquele lugar porque, curiosa e acostumada ao carinho, achei que poderia passear no local, quem sabe ganhar mais afagos e até um pouco da comidinha que tinha aquele cheirinho tão bom. Não foi maldade. Não pretendi insultar nem prejudicar ninguém.
Quando aquele ser veio até mim, ronronei, imaginando a mão deslizando pelo meu corpinho rechonchudo e macio. Só quando ele estava mais perto é que meu instinto me avisou do perigo. Mas era tarde. Fui acuada, pega e, em vez do costumeiro afago, apanhei. Apanhei, apanhei e apanhei do ser indiferente aos meus gritos e ao sangue que escorria da minha boquinha, do narizinho. Meu último olhar foi para o meu algoz, que ainda dizia algo que eu não compreendia, mas sentia que eram insultos. Que era veneno escorrendo da voz .
Não. Eu não odeio esse moço. Bichinhos desconhecem esse sentimento que ironicamente é humano. Bichinhos sentem dor e se afastam de quem não lhes ama, mas não são incapazes da perversidade humana. Não odeio quem me matou. Tenho certeza que em seu peito bate um coração mais magoado e certamente menos amado do que foi o meu. “
Este texto é em homenagem as criaturinhas que perdem suas vidas sem nenhum motivo plausível, quando, diante da falta de cuidados da dureza dos "seres humanos", deveriam ser retiradas por alguma ong, pela zoonose, enfim, seres vivos que não mereciam morrer, torturados, em dor.
Yndiara Rosa Macedo Isejima Lampros.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Carta ao Cidadão Brasileiro
Hoje recebi uma postagem no Facebook e quero comentá-la por considerar importante o relato. A postagem vai transcrita após este texto, mas em resumo, uma amiga presenciou violência, falta de segurança e uso de drogas em um evento ocorrido num clube da cidade em que ambas residimos. Resido em uma cidade do interior para a qual eu e minha família viemos em busca de mais qualidade de vida, em especial segurança pública e valores familiares. Por essas e outras, escrevo essa carta aberta aos cidadãos brasileiros:
Ao Cidadão Brasileiro,
Caro conterrâneo:
Sei muito bem que por diversas razões, valores estão se perdendo e que não é tarefa fácil falar de valores a uma sociedade cada dia mais individualista, egoísta e acéfala ( descerebrada, caso você não conheça a palavra). Tampouco, tal tarefa não é inglória. Basta ter objetividade e vontade.
De nada adiantam discursos simplesmente moralistas e vazios. Educa-se, em primeiro lugar, com exemplo. Você pode dizer: e que exemplo tem nossa infância e juventude? Corrupção para todo o lado, impunidade, ladrões do dinheiro publico reassumindo altos cargos no Congresso, torcedores de futebol sendo presos no exterior e se escondendo atrás de um menor de idade, uma vez que menores podem praticar verdadeiras barbaridades neste país, com a aquiescência de leis brandas e ineficazes.
Precisamos de maior atuação das autoridades na fiscalização e punição de irregularidades que põem os cidadãos em risco! Pois é, cidadão: concordo, mas quem tem que exigir isso é você. E eu. Nós é que temos que lembrar aos Educadores para que o sejam com *E* maiúsculo e se lembrem de que Educar não é só "dar matéria" e preencher papeleta. Valores vêm da família, mas senso crítico e aprendizado da cidadania também se encontram na escola.
Ah, não está feliz com o salário, cidadão brasileiro? Lute por ele, saia na rua, grite, manifeste-se, como você faz quando seu time perde, ou sua escola de samba é prejudicada. Você quebra estádio de futebol por causa de time, clube noturno por causa de mulher, pede a liberação da maconha. E fica calado quando o Calheiros e o Genoíno voltam ao poder, a coroa de louros mal disfarçando o cheiro da podridão. Nunca vi um panelaço por conta do aumento da gasolina, das tarifas de ônibus, dos juros abusivos. Você, brasileiro, derruba alambrados nos estádios e mata em nome do seu time. Vaia uma blogueira, defendendo a ideologia do governo Cubano. Nunca vi você arregimentar seus amigos e vizinhos para falar da buraqueira das ruas, dos esgotos a céu aberto, para exigir a devolução do seu dinheiro roubado pelos anões do orçamento, mensaleiros, toda essa gente que desfila de carro importado enquanto você anda como gado de corte nos trens da central, da CPTU, do metrô, ou tem o seu veículo retomado porque está desempregado, porque a inflação existe e mentem que não. Você vota nas gostosas do BBB, essa Big Bosta, e não lembra o nome do seu candidato na última eleição. Você troca o seu voto por favores pessoais, por uma geladeira de segunda mão, por meio par de sapatos, por uma possibilidade remota de ser ASPONE por quatro anos, por bolsa família de 30 contos ao mês, por 50 reais que não paga uma compra quinzenal enquanto o safado que lhe comprou está enriquecendo, trabalhando para o próprio bolso. É brasileiro, me desculpe, mas eu vou ter que cassar o seu título de cidadão. Para recuperar é fácil: três doses de vergonha na cara ao dia que devem ser tomadas com uma cáspsula de coragem. Omitir-se é fácil, mas o preço é alto. O gigante acordou? Que nada, continua deitado eternamente em berço nada esplêndido.
Yndiara Macedo
A seguir, a postagem no facebook:
Herika Varela
Show Raça Negra /Pixote/Papel.com - Itatiba EC
Lamentável alguns fatos, mesmo que isolados que ocorreram no evento!
Depois da Tragédia de Sta Maria passo a me preocupar em frequentar locais absurdamente lotados, e não foi diferente neste último sábado! (Embora esteja ciente das normas de segurança e equipe especializada que o IEC possui)! Não sei precisar qtas pessoas estavam no " clubão" mas certamente foi além do aceitável!!! Ninguém conseguia se mexer e não parava de lotar... Conclusão: onde paramos tivemos que ficar porque não era possível circular!!! Os seguranças "de preto" contratados ao invés de separar as brigas apaziguando a situação, brutalmente chegavam, sim de forma violenta para " separar" "gentilmente tirando a pessoa do salão" ( no Carnaval a equipe de Segurança do Clube não agiu dessa forma e tudo ocorreu bem mais tranquilo ao meu ver). Mais de um amigo pode presenciar no banheiro masculino a utilização escancarada de drogas, com carreiras feitas em celulares tipo " smartfone" "Onde está a revista da entrada???" Como passaram com droga para parte interna do Clube. Bom, no aperto, fila imensa para wc, pouco conseguindo ver o show, depois de outra imensa fila para comprar fichas para bebidas fui tentar pegar uma mísera "água" e estando de costas não consegui perceber uma briga e acabei sendo acertada com um belo " SOCO" em
meu ombro! Justo eu que nunca participei de uma briga...
Ahhhh não posso deixar de questionar que horas banda da cidade Papel.com fez seu show???
Que as falhas sejam sanadas para os demais eventos programados, assim seus sócios e visitantes poderão sair ao menos satisfeitos ajudando a falar bem do "clubão" como sempre ocorreu!!!
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
REFÉNS DO SILÊNCIO
Por Yndiara Macedo
Era alta madrugada quando André
fechou a porta de casa, cuidadoso para não romper o silêncio. Estava a caminho
do banheiro quando ouviu a porta do quarto da mãe se abrir. Engoliu em seco,
esperou. Talvez se tratasse só um golpe de ar inoportuno, para importunar-lhe
os nervos. André prendeu a respiração, aguardando o momento para se mover,
entrar no banheiro. Sua porção racional mostrava-lhe o ridículo da situação.
Ele era um adulto de 30 anos que
trabalhava, pagava metade do aluguel e outras despesas da casa. Pagava muitas
contas para ter que prestar contas dos seus atos. Ele abriu devagar a porta do banheiro. Ao som
mínimo do “click” da maçaneta, ecoou a voz da mãe, amargurada.
- A essa hora,
André Luiz?
A boca do rapaz
abriu e fechou, mas a voz não saiu. Dizer o quê? Era tarde mesmo.
- Onde você estava
até agora? E esse cheiro? Não é maconha, é?
- Não, mãe. É
meu perfume... – respondeu André, num fio de voz. A mãe não ouviu, como sempre,
ou entendeu o que quis. Como sempre.
- Só faltava
essa! Meu único filho, maconheiro. Meu Deus, que vergonha teria seu pai. Em que
companhias você tem andado?
André desistiu de se defender antes mesmo de tentar. Seria um esforço
vão. Nascera condenado. Seu Júri era a família, desde o primeiro ancestral até
o último bebê que nascera, de uma prima distante. A promotoria era o mundo de gente normal,
ordeira, temente a Deus. “ Bobagem” lhe dizia a consciência “ O mundo mudou. O
que é ser normal?”.
Mas a consciência
de André não conseguia ser seu Juiz. A menção ao pai lhe provocou o conhecido
arrepio na espinha, que antecedia as memoráveis surras paternas, que ele levava
de vez em sempre. O velho morrera havia sete anos, bem a tempo de André
desistir da faculdade de Engenharia. Por dias ouvira a ladainha amargurada da
mãe que o acusava de apunhalar o pai pelas costas. Logo ele, um homem tão bom,
que queria ver o filho doutor, formado! Um homem tão bom!
André
despiu-se e foi para debaixo do chuveiro.
Um homem tão bom, pensava André enquanto deslizava o sabão pelo corpo
cheio de marcas. Mas nenhuma era tão feia quanto as que havia na sua lembrança.
A mais horrenda era do dia em que o pai o pegara na casa da vizinha, brincando
de casinha. Ele tinha uma boneca nos braços, embalava-a com carinho. O pai o arrastara
para casa pelas orelhas, trancou-se com ele no banheiro. Primeiro levou uma
surra de cinta e socos até entortar.
- Onde já se viu
de boneca na mão! Isso lá é coisa de homem?!
- A gente tava
brincando de casinha... – murmurava o menino entre soluços.
- Homem não
brinca dessas coisas! Casinha é coisa de mulherzinha!
- Mas eu era o
pai! – chorava a criança, Quanto mais lágrimas, mais apanhava.
- Que pai que
nada! Já me viu de bonequinha por aí?! E engole o choro. Aprende a apanhar que
nem macho!
O pai fizera ele se despir,
agarrou-o pelos testículos e pelo pênis.
- Está vendo
isso aqui? Olha, moleque!
André baixou os
olhos cheios de dor para a os ainda pequenos órgãos. Tinha onze anos.
- Se eu lhe ver
de bonequinha na mão, brincando com menina ou chorando que nem mariquinha eu
vou cortar isso tudo fora e dar pros cachorros.
– sibilou o pai. Tinha o hálito carregado de cigarro, que fumava um
atrás do outro e que o matou, aos 59 anos, vítima de câncer generalizado.
- Um homem tão
bom. – lamuriava-se a mãe, do corredor. – Não merecia isso.
André enfiou a cabeça debaixo do
chuveiro até que só ouvisse o barulho da água martelando sobre a cabeça. Desde
os onze anos aprendera a apenas ouvir e calar, mesmo a dor. Ele não entendia
porque era diferente, porque na escola gostava mais da companhia das meninas e
ao ver novelas queria namorar os galãs e não as mocinhas. Não era de propósito,
ele não escolhia ser assim, não escolhia ser espancado pelo pai nem escarnecido
pelos outros coleguinhas.
- Mulherzinha! Mulherzinha!
Mulherzinha! – gritavam os garotos na escola.
- Não sou não! –
ele gritava de volta. E não era mesmo. André não era mulher, nem queria ser.
Mas queria namorar o Indiana Jones e não a Madona. Não sabia por que e não
tinha a quem perguntar. Cresceu isolado. Na adolescência, ia escondido na casa
das amigas, dizia à mãe que ia jogar futebol ou fazer trabalho de grupo. Aos 18
anos seu pai lhe deu dinheiro para “ ir pegar uma dona”. O rapaz não entendeu.
- Uma dona!
Mulher da vida! Puta! Prostituta! – rosnou o pai , tossindo com a fumaça do
cigarro. André pegou o dinheiro e saiu
porta a fora, antes que apanhasse, sem saber para onde ir. Ele obviamente sabia o que era prostituição,
mas não onde encontrar. A simples ideia de pagar por sexo o enojava. Será que o pai
dormia com putas antes de dormir com sua mãe? Vomitou na calçada. Mas aquele era o conselho de um homem bom.
Seu pai. O modelo a seguir até o bordel mais próximo e deitar com uma
desconhecida.
O
rapaz tomou um ônibus, foi até o ponto final. Esperou o tempo passar e pegou o
último ônibus de volta. Foi a única vez que não apanhou ou levou sermão ao
chegar tarde em casa. Os pais estavam recolhidos, ele se trancou no quarto.
Escondeu bem o dinheiro dado pelo pai. Depois pensaria no que fazer com aquilo.
Esmola na igreja, um presente pra mãe, qualquer coisa.
Com o passar do tempo, André
falava cada vez menos com o pai e só o necessário. Passou no vestibular para Engenharia para
escapar da surra certa se falhasse. A
mãe era uma figura apática, quase ausente da sua vida. Se o pai não era
seu modelo, ela tampouco. Ele vivia para
dentro, na solidão e no silêncio. Sempre
o silêncio.
Quando o pai estava nas últimas,
foi vê-lo no hospital. Pouco restava de força no corpo magro esticado no leito.
Com os pulmões, esôfago e faringe tomados pelo câncer, o velho já quase não
podia falar, mas os olhos continuavam agressores. Foi com eles que fitou André,
que estava sentado em uma cadeira, no canto mais distante possível. A mãe tinha
ido ligar para uma das suas irmãs, aproveitando o horário de visitas. André olhava para o relógio no pulso e para a
porta, rezando para a mãe voltar logo e ele poder ir embora. Falar o quê? Das
insuportáveis aulas de cálculo, das tediosas aulas de mecânica, da solidão nos
intervalos ou na hora do almoço porque ele não era do time da cerveja nem do
futebol de domingo, ou da caça à mulherada?
Nada tinha a dizer ao pai que não havia lhe deixado nem um resto, uma
migalha de amor.
- Eu já vou
indo... – André se levantou. Mais cinco minutos e encerravam-se as visitas –
Mamãe já vem.
Os olhos agressores do pai
fitaram-no. A boca trancada numa expressão dura. O rapaz abriu a porta e ouviu
a voz roufenha do pai chamá-lo.
- André...
Ele se voltou. O pai tossia e
respirava com dificuldade, juntando esforços para falar:
- ... eu sei o
que você é.
Essa foi a última frase que ele
ouviu do pai. Cuspidas com algo pior que ódio. Um desprezo arrancado do fundo
da alma tão tumorosa quanto o corpo.
André deixou a
faculdade, arranjou um bom emprego graças às suas habilidades em informática,
área da qual ele realmente gostava. Conheceu
outras pessoas, descobriu que havia outros iguais a ele: advogados,
professores, arquitetos, psicólogos, vendedores, caixas de loja. Gente. Aprendeu onde encontrar um pouco de
atenção e de carinho, mas sempre discreto, sempre em silêncio. Amar se aprende
amando e ele não tivera esse tipo de educação. Na televisão, especialistas falavam em
opção x orientação. André não optara. Ninguém opta por uma vida que é imposta à
margem. Tampouco fora orientado.
Simplesmente era... o quê? André engolia
os próprios pensamentos, recusando-se a usar quer o rótulo quer o termo
politicamente correto. “Sou Humano”
dizia-se, mas como não conseguia crer nisso, diante do olhar reprovador e
severo da mãe que lhe cobrava esposa e filhos. André temia o olhar dos outros,
olhava para dentro de si e via um abismo. Evitava espelhos, que o incomodavam.
André fechou a torneira do
chuveiro. Finalmente, a mãe cansara e fora dormir. Ele enxugou-se e foi para o
quarto. Havia uma mensagem no celular.
“ Me liga. Tem churrasco amanhã. Elisa”
Elisa era uma colega de trabalho.
Loira, muito bonita, disputada pela homarada do escritório e do resto do mundo.
Aproximara-se de André porque fora o único que não lhe passara uma cantada nos
primeiros minutos de conversa. Tornaram-se amigos. André era bom ouvinte e se
tornou confidente da moça. Diferente dele, Elisa não sofrera abusos na
infância, nunca tivera problemas na escola ou na família. A não ser a incômoda
mania da mãe e das tias de quererem bancar o cupido. Elisa contou a André como
se horrorizava ante a ideia de acabar como a irmã, cujo marido a traía desde o
tempo de namoro. Ou como as primas com os maridos grosseiros, entediados, mais
interessados em futebol e cerveja do que no casamento ou nos filhos.
- Nem todo homem
é assim. – Argumentou André, lembrando
do pai mas se sentindo na obrigação de não desiludir uma mulher tão doce e tão
bonita. – Tem gente boa no mundo.
- Eu sei. –
abriu um lindo sorriso – Não tenho raiva dos homens. O problema é o seguinte...
entre o Indiana Jones e a Madona, eu prefiro a Madona.
André demorou para encontrar a
voz. Como assim? Ela era tão linda, popular.
- Por quê? – ele
indagou. – Você tem uma vida tão tranquila...
- Minha vida é
tranquila porque ninguém sabe dela.
A partir dali, se tornaram quase
inseparáveis. André a levava em casa de
vez em quando, e juntos enfrentavam as longas ladainhas da mãe dele, que queria
netos, que sofria muito, que sentia falta do marido.
- Um homem tão
bom...
Por sua vez, André não se
importava de acompanhar Elisa nas festinhas da família dela e admirar-se de
como o mundo não reconhece impostores, quando não quer. Por isso, no dia seguinte ele iria envergar sua melhor
fantasia de macho e acompanhar Elisa ao churrasco, sorrir diante das piadinhas
sobre quando eles iam parar com o papo de amiguinhos e “se assumir”.
Ambos amigos, aliados.
Reféns do mesmo silêncio.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Cidadania Cultural: Realidade ou Utopia? Uma Visão do Artista
Por
Nestor Lampros e Yndiara Macedo
Utopia:
“tem como significado mais comum a ideia de civilização ideal, imaginária, fantástica. Pode referir-se a uma
cidade ou a um mundo, sendo possível tanto no futuro, quanto no presente, porém
em um paralelo. A palavra foi criada a partir dos radicais gregos οὐ, "não" e τόπος, "lugar",
portanto, o "não-lugar" ou "lugar que não existe". (
Wikipedia)
Cidania Cultural: “Segundo Bastos (2002:134), assinalou se por um
lado a Constituição Federal trouxe um aporte significativo de leis que
alcançaram um escopo fundamental de variáveis para a construção da cidadania
cultural, por outro, tornou-se necessário um engajamento da sociedade
organizada como forma dar sentido a essa nova ordem jurídica. Corroborando com
esta ideia Soares (2001 )afirma que a promoção da acessibilidade aos bens
culturais, enfatizando que ela cumpre as determinações da constituição Federal
de 1988, quando consagra os direitos das portadoras de deficiência física e
também proclama o direito a cultura, em seu artigo 215,seção II, da cultura:. O Estado garantirá a
todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura
nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações
culturais.”
“Patrimônio cultural é o conjunto de
todos os bens, materiais ou imateriais, que, pelo
seu valor próprio, devem ser considerados de interesse relevante para
a permanência e a identidade da cultura de um povo.
O
patrimônio é a nossa herança do passado, com que vivemos hoje, e que passamos
às gerações vindouras.” Wikipédia
Segundo
dicionários e iminentes filósofos, cidadania cultural é o direito de qualquer
cidadão não apenas ao acesso à cultura como à sua produção e difusão.
Entretanto, todos os textos aos quais tivemos acesso não tratavam da produção,
do fazer a Arte. Ocupavam-se das teorias políticas, em especial as que rechaçam
o neo liberalismo e privilegiam o que chamaremos, á falta de maior conhecimento
teórico, de filosofia de esquerda. Nesses textos (incluindo
a leitura de Marilena Chauí ), fala-se muito mais da necessidade do acesso á
população aos bens culturais do que sobre sua produção, propriamente dita.
Os
bens culturais no nosso país estão sendo
respeitados de acordo com a própria visão de bem cultural- plenamente acessível
a todos, protegido, veiculado e mantido pela sociedade? Pensamos que esta
questão está sendo silenciada pelos próprios interesses que cercam os valores
desses mesmos bens culturais.
O bem cultural não é monopólio de um partido, de um governo (se
pudéssemos colocá-lo num extremo provável) tampouco é um bem passível de uso
para promover interesses particulares que não deixam que este produto seja
socialmente desfrutado, ou dividido, ou mesmo exposto.Nenhum desses extremos é positivo,
nem mesmo condiz com o que consta no artigo 215, seção II da nossa Constituição.
Na perspectiva desses extremos que mencionamos, a chamada Cidadania Cultural
nada mais é do que pura Utopia, ou seja, um não lugar. Um conceito apenas
sonhado, irrealizado.
Nosso país é rico em cultura até
porque a formação do Brasileiro é multicultural. Temos influências diversas
desde as três etnias que se encontraram no descobrimento do país até as diversas
etnias que se instalaram no Brasil ao longo do tempo (ariana, asiática,
islâmica, semita, só para citar alguns exemplos). O Brasil, portanto é rico em
manifestações culturais diversas ( e isso não é utopia), mas a cultura que o
povo cria com sua peculiaridade anda se prestando ao uso mercantilizado,
devorando, mastigando e triturando
manifestações culturais autênticas para vomitá-las no mercado em uma pasta
massificadora e alienante, sem preocupação outra que não o consumo rápido. Em
vez de cidadania cultural, temos então a voracidade do capitalismo desenfreado,
interessado em venda/consumo e que serve aos interesses de uma política cada
vez mais corrupta e esta, por sua vez, serve e se serve de uma “fast
food cultural”.
Onde o artista nessa situação? Qual o seu lugar?
É nossa opinião que os bens culturais não são propriedade ou massa
de manobra para politicagem. Não é um purismo que propomos, é uma garantia da legitimidade e autonomia não apenas da cultura
mas de seu produtor – a manifestação (autoria) popular, advinda de qualquer
classe social . Vincular os bens culturais com a corrupção política e o
mercantilismo gera o monopólio do que
não poderia ser monopolizado: a livre circulação do obra e seu artista, compromissado
com sua arte, sua visão de si mesmo e do mundo que o cerca. Nem a Arte, nem o
Fazer Cultural nem o Artista devem ser ferramentas de uma classe que tudo faz
para tornar-se absoluta e perpetuar-se no poder. Essa situação extingue a possibilidade da diversidade
cultural, silenciando o legítimo criador e sua criatividade, bem como a sua
liberdade em usar sua voz, sons, palavras, cores e linhas, massas, corpo,
intuições e emoções, de forma autêntica, sem manipulações, sem a preocupação de
produzir obras que agradem ao seleto grupo daqueles que, por dever
constitucional, deveriam difundir a Cultura/Arte de forma democrática. A
corrupção e o mercantilismo (que hoje se apresenta no pomposo termo inglês “
marketing” ) sempre compromete a alteridade, em qualquer âmbito. Isso porque o supra
mencionado poder se comporta como o reizinho mandão da fábula e está pronto
para silenciar o discordante, naquilo em que sua produção difira de seus pontos
programáticos ou mesmo quando deseja privilegiar seus escolhidos que obviamente
estão conformes à uma visão particularista. A censura, agora, se apresenta de
forma insidiosa e sutil, disfarçada em “critérios de avaliação”, mas é o mesmo
silêncio imposto pelas ditaduras. E pelos mesmos motivos: capital, controle,
poder.
Não podemos, porém, incorrer em outro extremo, ou seja, deixar a
produção cultural nas mãos do mercado e apenas para esse fim. Isso também
escraviza o artista, artesão, produtor cultural, que se vê nas mãos impiedosas
do consumismo alienado que torna a arte/fazer cultural tão somente mercadoria,
alienada do princípio de que essa produção emerge da intuição profunda -como
nos diz Ferreira Gullar- seja do artista
popular ou do erudito, por conta de uma necessidade interior, uma necessidade
que busca a expressão em obras e na matéria e nos sons, ou no corpo para
corporificar essa emoção, por vezes frágil e fugaz, quando não é um insight de uma manifestação do sublime.
Pensamos que as obras culturais dizem respeito a um contexto
espaço-temporal, nem que essa obra represente uma antítese a esse contexto. O
seu criador as produz para sobreviver ao seu tempo. Um artista, na acepção do
termo, deixa marcas e mensagens, mesmo que afirme não ser esta sua pretensão. A
prática ( infelizmente comum) de cercear a produção cultural pela invisível
censura do privilégio político, vai esmagando a cultura e seu fazer ou seja, a
arte em qualquer das suas manifestações.
A realidade é que as leis de incentivo cultural não estão ao acesso de todos,
o que manda por ralo abaixo o projeto de Cidadania Cultural e nos fazem pensar
que tal é, na melhor das hipóteses, uma Utopia. Na pior... bem, uma ação
política que nada mas é do que “Panis et Circenses” – Pão e Circo. No caso, a
cultura vira o circo, no mau sentido.
Os bens culturais não dão em árvores, embora o artista
contemporâneo possa usar maçãs para sua obra de instalação. Mas todos os artistas precisam ( ou
deveriam) ter maçãs para se alimentar...
Os bens culturais estão imbricados no fazer-se constante e contínuo. O artista, o criador, de
uma maneira ou outra deveria ser protegido, ou deveria ter condições de se
proteger contra a maré extremamente corporativista. É natural a
condição de competição em nossa sociedade capitalista, porém o corporativismo
não suporta a manifestação daquele que quer dispor de seu talento e sua
expressão fora da ditadura que serve a interesses comerciais e/ou políticos. E
por esse e tanto outros que não se curvam ao jogo de interesses, permanecem à margem dos circuitos culturais oficiais.
Nessa marginalização, há um dado positivo que é a liberdade. Embora
seja parcial, alguma liberdade é melhor que nenhuma. Porém precisamos ampliar a
maneira de veiculação dos bens culturais através de uma valorização intensiva
de inserção, ou reinserção, do artista e sua obra na sociedade, fazendo com que
o artista seja valorizado pela sua produção e talento, tornando-se alguém que possa
a desenvolver sua visão de mundo e da sociedade em que vive e trabalha.
Leis
como a lei Rouanet, ainda
não são plenamente acessíveis. Infelizmente, há uma minoria privilegiada ( e
nem sempre pelo talento) que está
abocanhando as verbas governamentais, como é o caso, de forma injusta.
Talvez digam, nosso pensamento, sim, seja utópico. Contudo,
a proposta de Cidadania Cultural não foi nossa. Aliás, com ela concordamos
plenamente. Desde que seja aplicada realmente e não se preste a palanques e
comícios.
10/12/2012
PRÉ JULGAMENTO
Yndiara Macedo
Ainda
outro dia eu comentava sobre o sensacionalismo em cima da morte da menina
indiana estuprada na véspera do Ano Novo. Não sou vidente nem nada, mas agora
surge o público linchamento da atriz Zezé Polessa.
Segundo
um colunista do jornal carioca “O Dia” a atriz teria humilhado um motorista de táxi idoso que errara o endereço do Projac e
causara o atraso da atriz. Em decorrência dos insultos, o motorista veio a
falecer de infarto (http://blogs.odia.ig.com.br/leodias/2013/01/16/ministerio-publico-vai-indiciar-zeze-polessa-com-base-no-estatuto-do-idoso/.
)
Tomei conhecimento disso através
de extensa e intensa veiculação no “Facebook”. Há muitos compartilhamentos
acerca dessa notícia ( todos variações do mesmo tema). Em todos, a atriz já é
tida como assassina. O júri popular já
julgou e condenou a atriz, com sentença transitada em julgada e sem direito a
recurso.
O
que mais me chamou a atenção nessa celeuma - além do sensacionalismo,
manipulação da mídia, e veiculação distorcida de fatos como se fosse informação
– foi a total falta de senso crítico ( para não falar em senso de justiça ) de
um expressivo número de pessoas que se apropriou de uma fofoca e tornou-a um fato. O Jornal “O Dia” é conhecido pelo teor
sensacionalista e a coluna em questão veicula fofocas sobre astros e estrelas,
de preferência Globais. Como era de se esperar, muito infelizmente, a “notícia”
sobre a morte de um taxista idoso causada por uma atriz da Globo incendiou as
redes sociais ( “Facebook” e “Twitter”, principalmente). Os internautas
divulgam e compartilham a fofoca tratando-a como informação, sem se preocuparem
em parar para pensar e lembrar que qualquer moeda tem dois lados, que não
podemos tomar apenas uma versão como verdadeira.
Não
sou fã de Zezé Polessa, tampouco sua defensora. Ela certamente conta com
advogados para representá-la. Na
verdade, eu já nem me assusto com esse tipo de coisa, cada vez mais
corriqueira, mas me incomoda ver o quanto o nível de senso crítico está
diminuindo hoje em dia. É preocupante,
inclusive, porque a velocidade da comunicação hoje é cada vez mais rápida. Ou
seja, tem cada vez mais bobagem, mais nonsense, mais atrocidade, mais boataria,
inverdades, distorções e inversões que podem ser divulgadas em “trocentos” gigabytes. Há coisas boas também, mas se passássemos um
filtro para estupidez e futilidade, garanto que ia sobrar bem pouca coisa no
“Face” por exemplo.
Antes que me crucifiquem ou me pendurem pelos
polegares, esfolada viva, sobre um formigueiro, deixo claro que sou usuária de
redes sociais, nada tenho contra o progresso e os meios de comunicação. O meu
ponto sempre foi e continua sendo a batalha por mais conscientização, mais senso
crítico. Menos alienação. Tomemos o “Caso Zezé Polessa”. Segundo notícias em
diversos sites na internet, o Ministério Público do Rio de Janeiro abriu uma
investigação sobre o caso. Olhem só: trata-se de uma investigação e não
de uma sentença. Não sou Juíza nem Promotora de Justiça, como está se sentindo
uma bela porcentagem de internautas , colunistas e jornalistas. O meu bom
senso, entretanto, me avisa que 1) Até
agora só temos a versão do colunista do
dia e boatos de que até colegas da atriz ficaram indignados com seu “ assédio
moral” contra o motorista 2) Não chegou
a conhecimento público de que tenha havido qualquer testemunha da agressão da
atriz ao idoso, consta apenas que ele passou mal após deixar a atriz no Projac
e, no hospital, teria contado que fora humilhado mas não queria registrar
ocorrência por medo de perder o emprego. A quem o motorista falou isso, não se
sabe, não vi nenhuma declaração de testemunhas a esse respeito e, antes de
escrever este texto, eu realizei diversas pesquisas. Se algum leitor encontrou
informações de testemunhas do caso, que me desculpem. E me informem. As
postagens no “Facebook” também não dão conta de outra declaração que não a que
foi publicada na coluna do jornal carioca. Há uma declaração da filha do
taxista afirmando que o pai era cardiopata e que naquele dia já não se sentia
bem ao sair para trabalhar. A moça teria dito, também, que acha que a agressão
verbal da atriz contribuiu para a morte de seu pai.
Resumindo:
no que diz respeito ao que está na mídia ( redes sociais incluídas)
aparentemente não há como avaliar o ocorrido muito menos condenar a atriz.
Ninguém parou para pensar na veracidade do que lia. Assumiu-se como vítima o
motorista de taxi ( idoso, em condição social menos favorecida do que um
“Global”) e como vilã a atriz ( mais favorecida economicamente, estrela de
famosa rede de televisão). Alguém estava
dentro do táxi e presenciou a humilhação? Ninguém sabe, ninguém viu. Ainda
assim, o linchamento da atriz continua. Volto a dizer que não sou fã de
Polessa. Não acompanho sua carreira nem qualquer notícia sobre ela. Minha
opinião estritamente pessoal é
que é possível que esse episódio lamentável tenha ocorrido. Como postei na
minha página no “Facebook”, muitas celebridades ( não apenas televisos ou
artistas, mas os “poderosos” em geral)
esquecem que, perdoem a comparação, no banheiro é tudo igual pra todo mundo e que
o corpo vai apodrecer debaixo da terra, salvo se incinerado. Humildade não ocupa espaço, mas para algumas
pessoas ela é grande demais para acomodar no ego. Minha opinião, contudo, não representa os
fatos e eu nem ninguém podemos afirmar nada sem evidências. Só que ninguém costuma
parar para pensar nisso. Vamos introjetando, engolindo sem mastigar o que
certos meios de comunicação nos empurram. Depois vomitamos esse bolo mal
digerido, colaborando com desmedidos sensacionalismos. Penso que por trás de uma calúnia ou de uma
difamação, alguém sempre está buscando uma vantagem que nem sempre é
financeira. Pode ser política, emocional, ou, no caso das mídias, ibope,
audiência, aumento de notoriedade e, claro, de vendas , o que nos leva de volta
ao consumismo voraz e desenfreado de tudo.
Isso me remete ao horrível caso da “Escola Base”, aquela escolinha
infantil cujos proprietários e funcionários foram “denunciados” por um programa
de televisão por pedofilia e outras atrocidades contra crianças. Na Justiça,
foram todos inocentados, pois não havia qualquer veracidade, prova ou
fundamento nas acusações. Infelizmente, o veneno da mídia já contaminara uma
massaroca de alienados que se dizem cidadãos.
Depredaram a escola, perseguiram e constrangeram os “pedófilos” que, como
se provou, eram inocentes. Alguém ainda se lembra disso ou “passou”? Passou
para quem não foi preso, publicamente ofendido, apedrejado, caluniado, perdeu
emprego e toda uma vida. (http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/noticias/55481/passados+18+anos+professora+da+escola+base+ainda+nao+sabe+quando+vai+receber+indenizacao.shtml
)
Finalizo
com uma opinião, que se conselho fosse bom eu estava vendendo: da próxima vez, antes de espalhar uma
notícia, seja nas redes sociais, jornais, televisões, seja contar ao vizinho,
verifique a sua procedência e pare para pensar e analisar o que leu, viu ou
ouviu. No ensejo: quantas vezes será que fomos realmente humildes esta semana?
Será que cumprimentamos e agradecemos com um sorriso o motorista de táxi, de
ônibus, o servente no nosso emprego, o varredor de rua, o caixa do
supermercado? Vou confessar: às vezes eu
esqueço.
NOTÍCIAS SENSACIONAIS
Yndiara Macedo
Sensacional:
adj. Relativo a sensação, que produz
grande sensação; extraordinário, genial, surpreendente: uma novidade
sensacional. / Fam. Maravilhoso, espetacular: uma loura sensacional.
Sensacionalismo: s.m. Característica ou particularidade de
sensacional. Interesse ou procura pelo sensacional. Utilização ou resultado da busca por
assuntos sensacionais cuja repercussão tende a fomentar escândalos, chocar uma
sociedade, sem que tais assuntos sejam verdadeiros Filosofia. Fundamento ou
teoria cujas ideias são provenientes, exclusivamente, das sensações ou das
percepções sensoriais.
( Definições do Dicionário Aurélio)
Poucos
dias antes do fim de 2012, uma jovem foi brutalmente estuprada e ferida em um
ônibus em Nova Déli, Índia. O fato gerou comoção internacional e continua
ganhando espaço na mídia.
Sem
dúvida alguma, é uma notícia impactante, horrível e que merece o destaque que
lhe tem sido dado. Entretanto, o que tenho observado nos noticiários em qualquer meio ( televisão,
jornal, internet etc) é que o tom ora revoltoso, ora informativo,
dependendo do veiculador da notícia, está longe da isenção jornalística ou
mesmo do caráter de denúncia de que alguns meios tentam se apropriar. A pura verdade é uma só: o único aspecto
explorado pela mídia é o sensacionalismo.
Muito embora encontremos algumas esparsas ( e parcas) informações sobre
os fatos e suas consequências, o que se repete “ad nauseam” são os detalhes
sórdidos sobre a forma que a jovem indiana foi estuprada e seviciada,
destacando-se que foram seis estupradores.
O
que observo é que o interesse da mídia não é chamar atenção ou despertar a
consciência acerca desse tipo de monstruosidade, das péssimas condições de
segurança me que vivemos, da situação das mulheres na índia e em muitos países
( inclusive o nosso). Os desdobramentos em torno desses temas são efeitos
colaterais do sensacionalismo. Efeitos bem vindos, é claro, mas em breve alguma
outra notícia sensacional, que pode nem ser hedionda, mas curiosa, científica
ou cômica, ocupará o noticiário.
Há
poucos dias, deparei-me com uma brilhante palestra sobre dependência cultural,
proferida pelo jornalista e escritor Jorge Cunha Lima (http://www.cpflcultura.com.br/2008/12/24/a-dependencia-cultural/) e gravada
para o programa Café Filosófico, da TV Cultura. Dentre outros tópicos relevantes
ao tema e muito bem desenvolvidos, Cunha Lima destacou que, segundo sua
observação, o produto da televisão brasileira não é mais o programa em si, mas
a audiência. Referida palestra foi gravada em 2007. Penso que de lá pra cá
pouca coisa mudou, aliás, acentuou-se e não apenas no meio televisivo, mas em
qualquer meio. Obviamente, as emissoras de televisão são “campeãs de audiência”
nos quesitos morbidez, baixaria e sensacionalismo, disfarçando-os entretenimento
ou, pior, de denúncia social. A denúncia
existe, mas, como citei acima, é efeito colateral. Assim que a notícia
veiculada começa a arrefecer, logo aparece outro fato sensacional para saciar o
apetite mórbido e insensato de uma massa com nenhum ou muito pouco senso
crítico. Dessa forma, vai caindo no esquecimento todo o clamor suscitado pela
mídia em torno deste ou daquele fato. Quem ainda fala na pobre Isabela
Nardoni? O caso da moça assassinada pelo
goleiro Bruno ainda ganha espaço no noticiário porque o indiciado jogava em famoso
clube carioca e isso dá audiência. Aliás, como é mesmo o nome da moça
assassinada? Se o assassino fosse um
jogador de um clube medíocre no Piauí ou um pedreiro desconhecido do Acre,
talvez sequer houvesse clamor público, porque nem haveria divulgação do caso.
Quantas mulheres e crianças são estupradas, machucadas, mortas todos os dias,
em diversos pontos do planeta? O caso
Nardoni, por exemplo, foi chocante e tenebroso, porém, não se trata de caso
isolado. Quem trabalha nas Varas Criminais de qualquer cidade brasileira já
deve ter se defrontado com casos mais hediondos e não divulgados, pois não
despertariam o necessário “auê” que gera a audiência, que atrai leitores, que
divulga e destaca os meios de comunicação. Isabela Nardoni, por exemplo, era de
família abastada, pais com nível superior, avô advogado. O empresário japonês assassinado e retalhado
pela mulher era pessoa de posição financeira relevante e por isso com destaque
social. Mas não nos enganemos, tem coisa muito pior ocorrendo por aí, anonimamente,
apenas porque não interessa à mídia divulgar.
É óbvio que não é possível noticiar e
saber de absolutamente todo e cada movimento neste planeta. O que me desperta
atenção e que desejo ressaltar é a necessidade de não tomarmos por denúncia a sede por audiência e a
criação de uma irreflexiva cultura da violência. A mídia, qualquer que seja,
não está prestando um serviço social, muito menos denunciando desiguladades,
atrocidades, conspirações. O culto e a cultura da violência não leva á reflexão
do porque essas coisas horríveis acontecem. Não encontrei nenhum debate sobre o
que levou seis indivíduos a agirem tão brutalmente contra um ser humano. Não
que haja desculpas para a monstruosidade, mas ninguém reflete sobre de onde ela
surge, como se alimenta, porque aumenta. Todo mundo quer ver o enforcamento dos
assassinos, ou seja, mais violência. Ninguém se pergunta o porquê de nada e vai
crescendo um mercado da violência extremamente expressivo, sempre disfarçado de
notícia ou denunciação. A mídia presta serviço a si mesma e é com isso que
precisamos nos cuidar. O antídoto é simples: menos BBBs, Fazendas,
compartilhamento de inutilidades no Facebook, menos pancadão, baixaria, dancinhas
de bundas rebolantes, palavrões, consumismo desenfreado. Mais senso crítico,
mais leitura, e não apenas juntar palavrinhas, mas desvendar a escrita. E por
leitura entendamos também a compreensão da mensagem, seja ela verbal ou não
verbal. Precisamos com urgência descobrir as entrelinhas, ler o que não está
escrito, ouvir o que não foi dito, ver o que não está a olho nu, como queria
Paul Klee.
Quem
sabe com mais senso crítico, com menos estupidez e alienação (que é morte
cerebral voluntária), diminuam-se os casos de violência, estupros, assaltos,
miséria, corrupção. Quem sabe vejamos menos casos como o da pobre jovem indiana
e possamos ver menos programas que pingam sangue e mais entrevistas como a do
Cunha Lima, na Cultura. Afinal, o senso crítico é ferramenta essencial da cidadania. Sem
cidadania, não há civilização que se sustente.
05/01/2013
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