sexta-feira, 26 de abril de 2013

Elegia à "Pintada"


Escrevi este texto em homenagem à Pintada, a gatinha morta em Itatiba, por um completo imbecil, covarde e assassino, e a tantas outras criaturinhas que são seviciadas, torturadas, abandonadas e/ou mortas, sem nenhuma razão, pois não há nenhuma, *nenhuma*, razão nisso. Publiquei no meu blog e enviei ao Jornal de Itatiba, para a coluna recebemos. Estou com o coração realmente partido e indignada com a crueldade e impunidade que campeia solta. Essa semana uma dentista foi queimada viva porque não tinha dinheiro para dar para dois vagabundos safados. Tenho VERGONHA das leis (???) deste país, que acobertam a criminalidade.

“Eu entrei naquele lugar sem maldade. Não ia roubar nem estragar nada. O que me atraiu foi o cheirinho da comida.
Eu estava bem acostumada com as redondezas. As pessoas gostavam de mim. Eu era bem cuidada e feliz. O que mais gostava de fazer era correr e pular entre os muros e no parquinho, onde ficam as crianças. Elas me chamavam e eu sempre ia. Gostava de sentir as mãozinhas alisando meu pelo macio. Dengosa, eu sempre ronronava diante de carinho.
Entrei naquele lugar, naquele dia, inocente.  Bichinhos não fazem as coisa intencionalmente, por maldade, por querer, como os ditos seres “humanos”. A gente não faz cocô nem xixi na sua porta, na calçada, no seu estabelecimento, no seu quintal, porque não vai com a sua cara. A gente não mente e pede um real pra comida e vai comprar cachaça. Quando a gente mia ou gane, os olhinhos embaciados, é porque está com fome de verdade. A gente não  mente que precisa de dinheiro pra passagem ou pro remédio pra comprar droga. A gente nem sabe o que é o dinheiro de que os humanos gostam tanto.
Eu entrei naquele lugar porque, curiosa e acostumada ao carinho, achei que poderia passear no local, quem sabe ganhar mais afagos e até um pouco da comidinha que tinha aquele cheirinho tão bom. Não foi maldade. Não pretendi insultar nem prejudicar ninguém.
Quando aquele ser veio até mim, ronronei, imaginando a mão deslizando pelo meu corpinho rechonchudo e macio. Só quando ele estava mais perto é que meu instinto me avisou do perigo. Mas era tarde. Fui acuada, pega e, em vez do costumeiro afago, apanhei. Apanhei, apanhei e apanhei do ser indiferente aos meus gritos e ao sangue que escorria da minha boquinha, do narizinho. Meu último olhar foi para o meu algoz, que ainda dizia algo que eu não compreendia, mas sentia que eram insultos. Que era veneno escorrendo da voz .
Não. Eu não odeio esse moço. Bichinhos desconhecem esse sentimento que ironicamente é humano. Bichinhos sentem dor e se afastam de quem não lhes ama, mas não são incapazes da perversidade humana. Não odeio quem me matou. Tenho certeza que em seu peito bate um coração mais magoado e certamente menos amado do que foi o meu. “
Este texto é em homenagem as criaturinhas que perdem suas vidas  sem nenhum motivo plausível, quando, diante da falta de cuidados da dureza dos "seres humanos",  deveriam ser retiradas por alguma ong, pela zoonose, enfim,  seres vivos que não mereciam morrer, torturados, em dor.
Yndiara Rosa Macedo Isejima Lampros.

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