Ainda
outro dia eu comentava sobre o sensacionalismo em cima da morte da menina
indiana estuprada na véspera do Ano Novo. Não sou vidente nem nada, mas agora
surge o público linchamento da atriz Zezé Polessa.
Segundo
um colunista do jornal carioca “O Dia” a atriz teria humilhado um motorista de táxi idoso que errara o endereço do Projac e
causara o atraso da atriz. Em decorrência dos insultos, o motorista veio a
falecer de infarto (http://blogs.odia.ig.com.br/leodias/2013/01/16/ministerio-publico-vai-indiciar-zeze-polessa-com-base-no-estatuto-do-idoso/.
)
Tomei conhecimento disso através
de extensa e intensa veiculação no “Facebook”. Há muitos compartilhamentos
acerca dessa notícia ( todos variações do mesmo tema). Em todos, a atriz já é
tida como assassina. O júri popular já
julgou e condenou a atriz, com sentença transitada em julgada e sem direito a
recurso.
O
que mais me chamou a atenção nessa celeuma - além do sensacionalismo,
manipulação da mídia, e veiculação distorcida de fatos como se fosse informação
– foi a total falta de senso crítico ( para não falar em senso de justiça ) de
um expressivo número de pessoas que se apropriou de uma fofoca e tornou-a um fato. O Jornal “O Dia” é conhecido pelo teor
sensacionalista e a coluna em questão veicula fofocas sobre astros e estrelas,
de preferência Globais. Como era de se esperar, muito infelizmente, a “notícia”
sobre a morte de um taxista idoso causada por uma atriz da Globo incendiou as
redes sociais ( “Facebook” e “Twitter”, principalmente). Os internautas
divulgam e compartilham a fofoca tratando-a como informação, sem se preocuparem
em parar para pensar e lembrar que qualquer moeda tem dois lados, que não
podemos tomar apenas uma versão como verdadeira.
Não
sou fã de Zezé Polessa, tampouco sua defensora. Ela certamente conta com
advogados para representá-la. Na
verdade, eu já nem me assusto com esse tipo de coisa, cada vez mais
corriqueira, mas me incomoda ver o quanto o nível de senso crítico está
diminuindo hoje em dia. É preocupante,
inclusive, porque a velocidade da comunicação hoje é cada vez mais rápida. Ou
seja, tem cada vez mais bobagem, mais nonsense, mais atrocidade, mais boataria,
inverdades, distorções e inversões que podem ser divulgadas em “trocentos” gigabytes. Há coisas boas também, mas se passássemos um
filtro para estupidez e futilidade, garanto que ia sobrar bem pouca coisa no
“Face” por exemplo.
Antes que me crucifiquem ou me pendurem pelos
polegares, esfolada viva, sobre um formigueiro, deixo claro que sou usuária de
redes sociais, nada tenho contra o progresso e os meios de comunicação. O meu
ponto sempre foi e continua sendo a batalha por mais conscientização, mais senso
crítico. Menos alienação. Tomemos o “Caso Zezé Polessa”. Segundo notícias em
diversos sites na internet, o Ministério Público do Rio de Janeiro abriu uma
investigação sobre o caso. Olhem só: trata-se de uma investigação e não
de uma sentença. Não sou Juíza nem Promotora de Justiça, como está se sentindo
uma bela porcentagem de internautas , colunistas e jornalistas. O meu bom
senso, entretanto, me avisa que 1) Até
agora só temos a versão do colunista de O Dia e boatos de que até colegas da atriz ficaram indignados com seu “ assédio
moral” contra o motorista 2) Não chegou
a conhecimento público de que tenha havido qualquer testemunha da agressão da
atriz ao idoso, consta apenas que ele passou mal após deixar a atriz no Projac
e, no hospital, teria contado que fora humilhado mas não queria registrar
ocorrência por medo de perder o emprego. A quem o motorista falou isso, não se
sabe, não vi nenhuma declaração de testemunhas a esse respeito e, antes de
escrever este texto, eu realizei diversas pesquisas. Se algum leitor encontrou
informações de testemunhas do caso, que me desculpem. E me informem. As
postagens no “Facebook” também não dão conta de outra declaração que não a que
foi publicada na coluna do jornal carioca. Há uma declaração da filha do
taxista afirmando que o pai era cardiopata e que naquele dia já não se sentia
bem ao sair para trabalhar. A moça teria dito, também, que acha que a agressão
verbal da atriz contribuiu para a morte de seu pai.
Resumindo:
no que diz respeito ao que está na mídia ( redes sociais incluídas)
aparentemente não há como avaliar o ocorrido muito menos condenar a atriz.
Ninguém parou para pensar na veracidade do que lia. Assumiu-se como vítima o
motorista de taxi ( idoso, em condição social menos favorecida do que um
“Global”) e como vilã a atriz ( mais favorecida economicamente, estrela de
famosa rede de televisão). Alguém estava
dentro do táxi e presenciou a humilhação? Ninguém sabe, ninguém viu. Ainda
assim, o linchamento da atriz continua. Volto a dizer que não sou fã de
Polessa. Não acompanho sua carreira nem qualquer notícia sobre ela. Minha
opinião estritamente pessoal é
que é possível que esse episódio lamentável tenha ocorrido. Como postei na
minha página no “Facebook”, muitas celebridades ( não apenas televisivos ou
artistas, mas os “poderosos” em geral)
esquecem que, perdoem a comparação, no banheiro é tudo igual pra todo mundo e que
o corpo vai apodrecer debaixo da terra, salvo se incinerado. Humildade não ocupa espaço, mas para algumas
pessoas ela é grande demais para acomodar no ego. Minha opinião, contudo, não representa os
fatos e eu nem ninguém podemos afirmar nada sem evidências. Só que ninguém costuma
parar para pensar nisso. Vamos introjetando, engolindo sem mastigar o que
certos meios de comunicação nos empurram. Depois vomitamos esse bolo mal
digerido, colaborando com desmedidos sensacionalismos. Penso que por trás de uma calúnia ou de uma
difamação, alguém sempre está buscando uma vantagem que nem sempre é
financeira. Pode ser política, emocional, ou, no caso das mídias, ibope,
audiência, aumento de notoriedade e, claro, de vendas , o que nos leva de volta
ao consumismo voraz e desenfreado de tudo.
Isso me remete ao horrível caso da “Escola Base”, aquela escolinha
infantil cujos proprietários e funcionários foram “denunciados” por um programa
de televisão por pedofilia e outras atrocidades contra crianças. Na Justiça,
foram todos inocentados, pois não havia qualquer veracidade, prova ou
fundamento nas acusações. Infelizmente, o veneno da mídia já contaminara uma
massaroca de alienados que se dizem cidadãos.
Depredaram a escola, perseguiram e constrangeram os “pedófilos” que, como
se provou, eram inocentes. Alguém ainda se lembra disso ou “passou”? Passou
para quem não foi preso, publicamente ofendido, apedrejado, caluniado, perdeu
emprego e toda uma vida. (http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/noticias/55481/passados+18+anos+professora+da+escola+base+ainda+nao+sabe+quando+vai+receber+indenizacao.shtml
)
Finalizo
com uma opinião, que se conselho fosse bom eu estava vendendo: da próxima vez, antes de espalhar uma
notícia, seja nas redes sociais, jornais, televisões, seja contar ao vizinho,
verifique a sua procedência e pare para pensar e analisar o que leu, viu ou
ouviu. No ensejo: quantas vezes será que fomos realmente humildes esta semana?
Será que cumprimentamos e agradecemos com um sorriso o motorista de táxi, de
ônibus, o servente no nosso emprego, o varredor de rua, o caixa do
supermercado? Vou confessar: às vezes eu
esqueço.
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